quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Comentário ao texto de Claudio Duarte*

Olá Claúdio, gostei do texto, profundo em seus argumentos e inovador em propostas. Desejo fazer apenas dois comentários breves: primeiro, pode-se dizer que são muitas as causas da derrota do Estado operário russo, porém umas das razões esteve em seu isolamento internacional e,sem dúvida a "ofensiva" contra-revolucionária. Mas convenhamos que embora todas as críticas que se possa fazer ao bolchevismo, temos que dar a mão a palmatório em seu processo de construção socialista inicial que remete "frutos" ainda hoje para à "nova Rússia".Os traços históricos deixam marcas, não para seguí-los num retrocesso inútil, em esquemas teóricos e práticos que não nos dizem mais respeito, e "dificultariam o devir". Em segundo lugar, posto as devidas controvérsias, tento imaginar que esse talvez seja um caminho necessário e possível. Embora o enfrentamento seja também inevitável, portanto, as tradições marxistas, neomarxistas, entre outras esquerdas tem seu mote de responsabilidade na luta anti-capitalista e na tarefa de construção do "socialismo em devir". E uma coisa: vc está muito correto em meu ver, “A violência revolucionária pura e simples não tem mais eficácia alguma se não tiver as armas da crítica mais aprofundada”(Duarte, set/2007)

* O socialismo em Devir: a difícil dialetização de uma idéia fixa in:http://militante-imaginario.blogspot.com/2007/08/o-socialismo-em-devir-difcil-dialetizao.html

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

FILOSOFIA E AFETIVIDADE*

Estamos sempre a procura de satisfazer nossas necessidades, no entanto, somos seres insatisfeitos, seres de desejo. O desejo surge numa relação recíproca entre os seres humanos e a natureza. Isso reage afetivamente nos acontecimentos. Por isso, somos RAZÃO E AFETOS. A razão possibilita meios para compreender a realidade de modo sistemático e crítico. Mas o impulso, a energia vem do desejo, que põe o mundo humano em movimento. Os sentimentos e as emoções no afetam independente de nossa vontade.
Quando somos afetados não temos como evitar a resposta, seja de prazer, dor ou cólera. É nesse sentido que entendemos os conceitos de PAIXÃO E AMOR.
Paixão e Amor: afetos fortes e desejos poderosos. Por que falar de amor e paixão? Não basta amar e viver a paixão? A resposta é não. Em qualquer idade, o amor e a paixão entre duas pessoas é algo maravilhoso, mas quanto mais conhecermos a estrutura desses sentimentos e das suas emoções, mais poderemos vivê-los, tanto na ADOLESCÊNCIA quanto em outros momentos da vida.
Características da paixão
A paixão, segundo Alberoni, sociólogo italiano, diz respeito a uma revelação, um inspiração que transforma toda nossa vida. É a manifestação de algo diferente, que nos retira da tranqüilidade da vida cotidiana, na qual os laços afetivos se encontram consolidados, e nos atira num redemoinho que transfigura a nossa vida pode provocar mudanças em nossas relações com os outros e nossa postura diante do mundo.
Por isso, a paixão é vista como um impulso vital que nos leva a explorar todos os possíveis de nossa vida, que nos faz descobrir emoções intensas que ativa nossa imaginação, tornando-nos mais criativos e contribuindo para que assumamos riscos.
Entretanto, não nos apaixonamos em qualquer momento da vida. É preciso estar disponível. Por isso pode-se dizer, que nos apaixonamos com maior facilidade durante a adolescência. “A adolescência é o período de passagem da infância e da família infantil para o mundo adulto em toda sua complexidade. É, portanto, onde vemos o eclodir de paixões rápidas, um contínuo unir e separar, numa sucessão de revelações e desilusões” (Alberoni).
A paixão é, ainda, exclusivista e cria tempo e espaço míticos, ou seja, determinadas datas, lugares, músicas são considerados “sagrados” pelo par enamorado, a fim de função de comemorar e com função de reativar sentimentos.
Um detalhe: é o próprio fato de ser imprevisível que nos faz sentir ciúme em função do medo da perda. Aquele que for mais inseguro começa a estabelecer limites cada vez mais estreitos, que funcionam como provas de amor. Pergunta-se: quando a paixão pode acabar?
Características do Amor
O amor, segundo Japiassu, é o sentimento de inclinação ou atração que liga os seres humanos uns aos outros. Às vezes, em continuação a paixão, ou independente dela, surge o Amor como sentimento de tranqüilidade, de ternura, de reconhecimento das boas qualidades do outro e de aceitação de seu modo de ser, inclusive do que podemos considerar “defeitos”. Nesse sentido, o amor se assemelha a amizade e se distingue da simples atração física, do sexo impessoal que não envolve afetos. Dura mais que a paixão porque se desenvolve fora das situações extraordinárias, dentro dos limites da vida cotidiana.A passagem da paixão para o amor é feita por meio de provas – da verdade e da reciprocidade. Superadas essas provas chegamos à tranqüilidade do amor compartilhado. No entanto, não podemos garantir que o amor seja um sentimento eterno e inacabado. Ele também é limitado precisa de alimento afetivo diariamente: carinho, respeito, dedicação, emoção,...Compartilhar sentimentos é uma grande prova de amor.
*(cf. Temas de Filosofia de Maria L. de Arruda Aranha, ed. Moderna, pág. 141-142)

domingo, 14 de outubro de 2007

Dia do/a professor/a

Caro amigo Adilson,

Estamos no mesmo "barco", as vezes nos parece a deriva, outras vezes o vento nos sopra para caminhos favoráveis e outras vezes nem sempre. É o que temos que percorrer, enquanto profissionais e enquanto "mediadores" do conhecimento e da formação humana. Fico pensando que muito mais do que encantadora, o ato de Educar (-se), diz respeito a possibilidade de dignificação humana e do reconhecimento do outro em sua alteridade, a fim de nos compreendermos. Tenho pensado que o desafio é educar e educar-se nesse mundo cada vez mais "deseducado"! (Sem falso moralismo, ou melhor sem moralismos). PARABÉNS GRANDE PROFESSOR!!! O QUE PROFESSA SABEDORIA.



COMO NASCEU O DIA DO PROFESSOR?
O Dia do Professor é comemorado no dia 15 de outubro. Mas poucos sabem como e quando surgiu este costume no Brasil. No dia 15 de outubro de 1827 (dia consagrado à educadora Santa Tereza D’Ávila), D. Pedro I baixou um Decreto Imperial que criou o Ensino Elementar no Brasil. Pelo decreto, "todas as cidades, vilas e lugarejos tivessem suas escolas de primeiras letras". Esse decreto falava de bastante coisa: descentralização do ensino, o salário dos professores, as matérias básicas que todos os alunos deveriam aprender e até como os professores deveriam ser contratados. A idéia, inovadora e revolucionária, teria sido ótima - caso tivesse sido cumprida. (http://www.cardoso.sp.gov.br) (apud%20centro%20de%20filosofia%20educação%20para%20o%20pensar(florianópolis/SC)

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

A PAIDÉIA ARISTOTÉLICA E A EDUCAÇÃO ÉTICA*


(Por Alex Sander da Silva – 03/10/2007)

Aristóteles (384-322 a.C) - filósofo grego nascido na cidade de Estagira, na Calcídica, Macedônia, distante 320 quilômetros de Atenas.
Aristóteles estabelece diferenciações na atividade interventiva da razão, o que terá um desenvolvimento na Ciência, outro prático na moral. Portadora de natureza dupla, a alma é teórica e prática, de onde a educação (paidéia) visa uma dupla finalidade: procurar construir um caráter que se refletirá em atos que tendam a promover a felicidade do Estado; e preparar a alma para a justa apreciação da vida.

Para Aristóteles a felicidade é uma atividade, cujo filósofo designa com o nome de virtude. A virtude não é uma aptidão, nem inclinação, mas, hábito adquirido. Eis a importância da paidéia. Se para Platão imitar é, freqüentemente, iludir e falsificar, para Aristóteles, ao contrário, a imitação (mimesis) é constitutiva da natureza humana, dotada de caráter ativo e criativo. Por isso, na Poética, é a forma privilegiada de aprendizado. Nas representações das tragédias nos anfiteatros, ela deve operar a catarse (katharsis): “a tragédia é a imitação de uma ação virtuosa (...) que, por meio do terror e da piedade, suscita a purificação dessas paixões” (Aristóteles, Poética, 1985). A tragédia é a imitação de uma ação importante e completa, de certa extensão; num estilo tornado agradável pelo emprego separado de cada uma de suas formas, segundo as partes; ação apresentada, não com a ajuda de uma narrativa, mas por atores, e que, suscitando a compaixão e o terror, tem por efeito obter a purgação dessas emoções (ARISTÓTELES: 1985, 248).

Para exemplificar podemos usar a peça Édipo Rei, de Sófocles. Nela, a peripécia acontece quando o mensageiro chega e, ao contrário de libertar Édipo de sua inquietação, faz com que ele se desespere ainda mais. No momento do reconhecimento, quando Édipo descobre que é ele o assassino de Laio e filho de Jocasta, há uma reviravolta completa na ação, até chegar à catástrofe final: o suicídio de Jocasta e a cegueira de Édipo. A peripécia, nesta peça de Sófocles, inicia-se durante um diálogo entre Jocasta e Édipo, quando este começa a se dar conta de que o homem que havia matado podia ser Laio, o rei de Tebas:

ÉDIPO: Se o viajante morto era de fato Laio,Quem é mais infeliz que eu neste momento?Que homem poderia ser mais odiadopelos augustos deuses? Estrangeiro algum, concidadão algum teria o direito de receber-me em sua casa, de falar-me;todos agora deveriam repelir-me.E o que é pior, fui eu, não foi outro qualquer,quem pronunciou as maldições contra mim mesmo (SÓFOCLES: 1988, 60-1)
SÓFOCLES. Édipo Rei. São Paulo: Abril, 1976.
É POSSÍVEL PENSAR A TRAGÉDIA COMO PERSPECTIVA DE EDUCAÇÃO HOJE?
Aristóteles não possui uma obra especifica sobre educação, mas, de maneira diferenciada, sua posição encontra-se diluída em diversas produções, tais como a Metafísica, Política, De anima, Ética a Nicômaco, Retórica e a Poética. É bom lembrar que não se trata de uma transposição do modelo estético que subjaz a manifestação artística das tragédias. Mas, rediscutir o papel e a relevância de alguns elementos pedagógicos da tragédia[1]. Se de fato tem sentido dizer que a tragédia serviu como modelo de educação do povo grego, é porque nela há algo que torna possível a educação.

Ao trabalhar com o horizonte de possibilidades para os destinos humanos, refletidos no mito, a tragédia propicia a educação do imaginário, que acontece na representação do enredo. Tal possibilidade acontece nos dois grandes momentos do esquema do enredo: no primeiro momento é o estagio da consciência, memorização e recordação de algo como um conceito. No segundo, acontece o plano da contemplação, parte-se daquilo que foi supostamente reproduzido e se chega à catarse.

Há uma educação do sentimento, e a catarse será compreendida como saída daquela situação em que o ser humano encontrava-se preso no processo. A educação teria a tarefa de passar o educando de um estagio de processo/olhar para um estado de atividade/ver. Isto implica dizer que em Aristóteles a educação é a mímeses da atividade humana.

A mímeses não é imitação, duplicação ou reprodução do real, pelo contrario, na Poética, a mímeses se propõe a retirar conteúdos do mito, do mesmo modo que a escultura é extraída da pedra pelo artista. O caráter de descoberta, de não dominação, faz a mimeses ser uma atividade diferenciada dos conhecimentos técnicos atuais. No mundo antigo, o artista que constrói as tragédias não restringe a sua criação ao puramente dado no mito, mas retira sentidos que podem ser independentes daquele relato. É nesse sentido que se pode dizer que a finalidade educativa pulsa no coração das tragédias, pois o poeta retira dos mitos o elemento do trágico que irá aparecer em suas criações, produzindo novos sentidos.
Neste contexto, é mister que a pedagogia moderna produza novos sentidos ao aprender, os quais possam questionar a ausência e esquecimento moderno de instancias fundamentais da vida humana, como a educação do caráter, sentimento, imaginário e até do pensamento (Trevisan, 1998, p. 129).

REFERÊNCIAS:
ARISTÓTELES.Poética . In: Os pensadores . São Paulo: Abril, 1973. ... São Paulo: Ática, 1985
MATOS, Olgária. Filosofia, a polifonia da razão: filosofia e educação. São Paulo: Editora Scipione,1997.
TREVISAN, Amarildo. A filosofia da educação no mundo das tragédias gregas: uma análise aristotélica. Santa Catarina [Trindade, caixa postal 476 – 88010-970]: Universidad Federal de Santa Catarina ,UFSC, 1998.
HERMANN, Nadja. Pluralidade e ética em educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

* Texto para aula na graduação turma da Pedagogia, Disciplina Filosofia da Educaçao I, sob responsabilidade DA Profª Drª Nadja Hermann (PUCRS).
[1] Sobre esse assunto importante conferir o texto: Paidéia: A formação do homem grego de Werner Jaeger (SP, Martins Fontes, 1995).