Alex Sander da Silva
Muito das promessas da modernidade iluminista se cumpriu na sua totalidade num tipo de racionalidade que predominou na ciência e na técnica – a razão instrumental que constituiu a face perversa da razão humana. Paradoxalmente, os elementos do pensamento que buscavam autonomia, desmitologização e emancipação do indivíduo tornaram-se mecanismos de poder e opressão. O tema da crise de fundamentos racionais do conhecimento filosófico aparece aqui, sobretudo a partir do que chamamos de crise e crítica da razão na modernidade e a procura de legitimidade do conhecimento científico.
De acordo com o professor Castor Ruiz[1] se todos nos congratulamos da autonomia conseguida respeito à tutela teológica, talvez, na euforia do nosso paradigma racional, não tenhamos tomado consciência suficiente que, num processo crescente e abrangente, uma nova forma de tutela hegemônica se estruturou entorno dos diversos saberes da universidade e penetrou no conjunto do tecido social. De que estamos falando? Daquela que foi entronizada como a grande deusa da emancipação iluminista: a racionalidade.
Resulta evidente que não pretendemos questionar a pertinência nem a importância - por outro lado absolutamente imprescindível - da racionalidade para a construção do conhecimento e da práxis. O que pretendemos é refletir sobre os modos como essa racionalidade se configurou no modelo criado pela modernidade. Especificamente queremos debater o papel hegemônico e tutelar que a racionalidade instrumental adquiriu sobre o conjunto das áreas do conhecimento.
Edgar Morin mostra-nos que "a complexidade surge como dificuldade, como incerteza e não como uma clareza e como resposta"[2]. Mas também como oposição à intransigência. Ela não surge para julgar. Nem para abençoar. E mesmo que queiramos fazer algum julgamento da
"nossa sociedade ou uma sociedade exterior, a maneira mais ingênua de o fazer é crer (pensar) que temos o ponto de vista verdadeiro e objetivo da sociedade porque ignoramos que a sociedade está em nós e ignoramos que somos uma pequena parte da sociedade que não pode situar-se do ponto de vista dominador para julgar a sociedade. É uma lição de prudência de método e de modéstia que nos dá esta concepção de pensamento"[3].
Morin vai além das críticas aos cientistas que ainda defendem uma ciência clássica e prega o engajamento como se fosse um "neo-sartriano", e nos chama a lutar uma luta em nome do pensamento não-mutilante que nos conduza a ações não mutilantes[4]. E vai mais além quando nos previne de que
"certamente, será preciso muito tempo, debates, combates, esforços, para que tome forma a revolução de pensamento que começa por aqui e por ali desordenadamente. Portanto, pode-se pensar que não há relação alguma entre esse problema e a política de um governo. Mas o desafio da complexidade do mundo contemporâneo é um problema fundamental do pensamento e da ação política"[5].
E assim vai Morin nos levando a uma representação do mundo sem os dogmas e paradigmas que durante tanto tempo foi defendida por tantos intelectuais que se achavam os donos da verdade, os iluminados. Desde os religiosos com sua fé inflexível, aos cientistas clássicos com sua ciência surda e muda a um mundo e uma realidade complexas. Morin nos leva a acreditar o quanto é imprescindível para essa nossa sociedade doentia de final de milênio rever seus conceitos e convenções para que possamos passar a um novo milênio realmente "novo". E construamos uma grande comunidade democrática e humanista.
"Mas, se devemos abandonar a visão que faz do homem o centro do mundo, devemos salvaguardar a nossa visão humanista que nos ensina que é necessário salvar a humanidade e civilizar a terra. Abandonemos a missão de Prometeu e tornemo-nos seres terrestres, quer dizer, cidadãos da terra".
Nesses termos, é preciso resgatar uma reflexão que desvele os termos das determinações sociais objetivas e subjetivas da qual os sujeitos sociais estão submetidos. O pensamento complexo de Edgar Morin, parte de uma brecha entre a imposição objetiva e as determinações subjetivas para legitimar a possibilidade de uma Razão Aberta. Esse prisma proposto é mister e atual na defesa de uma educação para os novos tempos e novos saberes. Desse modo, é urgente enfrentar os problemas que estão na origem dos crimes acometidos contra a vida.
* Texto parcial da disciplina de Teoria da Ciência e do Conhecimento
* Texto parcial da disciplina de Teoria da Ciência e do Conhecimento
[1] http://www.humanas.unisinos.br/refundamentar/textos/castor.htm
1 MORIN, Edgar. O Desafio da Complexidade. Extraído do Livro Ciência com Consciência. Editora Bertrand Brasil, 1996 encontrado em http://www.cac.ufpe.br/vidvirt/memo/texto5.htm
2 MORIN, Edgar. Política de Civilização e Problema Mundial. Revista da FAMECOM, vol 5. 1996
3 MORIN, Edgar. O Problema da Epistemologia da Complexidade. Europa-América. Portugal. 1996. Pg. 14.
4 __________. Estado de São Paulo - 05 de Setembro de 1998.
5_______________. MORIN, Edgar. Política de Civilização e Problema Mundial. Revista da FAMECOM, vol 5. 1996
1 MORIN, Edgar. O Desafio da Complexidade. Extraído do Livro Ciência com Consciência. Editora Bertrand Brasil, 1996 encontrado em http://www.cac.ufpe.br/vidvirt/memo/texto5.htm
2 MORIN, Edgar. Política de Civilização e Problema Mundial. Revista da FAMECOM, vol 5. 1996
3 MORIN, Edgar. O Problema da Epistemologia da Complexidade. Europa-América. Portugal. 1996. Pg. 14.
4 __________. Estado de São Paulo - 05 de Setembro de 1998.
5_______________. MORIN, Edgar. Política de Civilização e Problema Mundial. Revista da FAMECOM, vol 5. 1996
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