terça-feira, 30 de outubro de 2018
EDUCAÇÃO: DO AUTORITARISMO A AUTORIDADE OU VICE-VERSA?
Em tempos educacionais difíceis, faz-se necessário uma reflexão entre autoritarismo e autoridade. Podemos dizer que os problemas educacionais atualmente estão se avolumando cada vez mais: baixos salários, poucos recursos materiais, formação continuada precária etc; E, como se isso não bastasse, aparecem inúmeros outros problemas, frutos de uma profunda crise de valores sociais e morais que atingem o espaço escolar, que geram um grande descompasso entre a atuação pedagógica da escola e dos professores e a postura dos alunos.
Desrespeito, indisciplina e desinteresse pelos estudos, são alguns dos problemas comuns que hoje a os professores estão enfrentando. A partir disso, surge à questão: como enfrentar tais problemas? Alguns professores buscam fazer “justiça” com as próprias mãos, isto é, enfrentam com “linha dura” essa problemática, que não é individual e sim coletiva. Toma-se saídas, pelo sentido de sua “autoridade”, mas que aparecem em forma sutil de “autoritarismo”.
Todavia, não queremos dizer com isso que o professor é um “vilão” e o aluno é o “santinho”, muito pelo contrário, ambos são vítimas do mesmo sistema. O sistema educacional de um país é um prolongamento de um sistema social e político. Em conseqüência disso, conforme Gadotti, “não poderá estar mais ‘atrasado’ ou ‘adiantado’ do que este”(1986, p. 83). As contradições existentes na escola são as contradições reproduzidas da própria sociedade. Nelas a própria comunidade escolar se torna vítima desse sistema de desigualdade, dominação e controle social.
O autoritarismo na escola vem revestido e é gerado, principalmente, pelo legalismo e pela burocracia. E nisso, o governo manda e desmanda. O calendário anual, as informações do que já foi decidido, vem tudo das instâncias superiores (inclusive o não reajuste salarial). Evita-se o máximo a participação coletiva, a organização democrática e as decisões do grupo. Nesse sentido, sem muito se dar conta, essa forma respiga na postura do professor em sala de aula, transformando-a em lugar de controle e obediência. O aluno não pode falar, se fizer isso “ele é indisciplinado”, “não tem moral”.
Com isso, o aluno perde o interesse pelos conhecimentos, decora aquilo que precisa saber e muitas vezes se rebela diante daquilo que não vem sentido com a sua vida e se queixa de atitudes autoritárias de muitos professores, em contrapartida, os professores se vêm impotentes para resolver os problemas disciplinares de alunos “mal-educados”, da falta de interesse e motivação, sem “impor disciplina”, ou “recorrer à nota”. Todavia, temos que entender o seguinte: a crise do modelo autoritário da educação não é apenas interna à educação, ela é muito mais complexa.
Perrenould (1995) vai considerar que mudar a postura autoritária significa mudar a escola e mudar a escola requer desestabilizar a prática pedagógica e o funcionamento da escola. Por isso, é de suma importância considerar o caráter democrático das ações escolares. Parece que não, mas estamos acima de qualquer sistema burocrático, na realidade somos humanos, estamos aprendendo – ensaio e erro – e dessa forma, podemos criar novas mentalidades, novas maneiras participativas e atuações significativas na escola. E, no momento o conceito de autoridade é uma alternativa e é o que precisamos procurar demonstrar em nossas ações, pois, somos PROFESSORES, ALUNOS, ESCOLA preocupados com a formação crítica dos sujeitos escolares.
Os governos perdem a legitimidade de suas proposta quando não usa o debate para elaborá-las. Seguindo uma prática autoritária, muitos diretores, não conseguem viabilizar o andamento da escola sem usar a “força” (impor convocações, mandar faltas), também o professor terá pouca credibilidade se suas iniciativas não contemplam a participação em sala. É necessário começar o combate a partir de cima e é importante estarmos atentos à construção de: projetos significativos da escola; movimentos de lutas pelas condições favoráveis ao nosso trabalho(luta sindical); espaços de trabalhos coletivos e de troca de experiências entre os professores-alunos e comunidade escolar (p. ex. reuniões pedagógicas e administrativas);espaços em redes de participação coletiva (Conselho deliberativo, APP);
REFERÊNCIAS:
GADOTTI, Moacir. Educação e Compromisso. Campinas, SP: Papirus, 1986.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
PERRENOULD, R. Formação em avaliação: entre idealismo ingênuo e realismo conservador. In: Práticas pedagógicas, profissão docente e formação: perspectivas sociológicas. Lisboa: Dom Quixote, 1993, pp.155-170.
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