terça-feira, 30 de outubro de 2018

EDUCAÇÃO GREGA: PEDAGOGOS, MESTRES-ESCOLA E SOFISTAS


Fundamentos da Educação – Profº Alex Sander da Silva


Com o sentido de paidéia na educação grega surgiu um novo conceito de educação digna do homem livre, que o habilita a tirar proveito de sua liberdade ou dela fazer uso (Monroe, 1983, p.27). Entretanto, não podemos esquecer que esse novo conceito de educação refere-se apenas aos cidadãos livres que podiam tirar proveito da sua liberdade, ficando de fora os escravos, as mulheres.
Conforme, Brandão (1995, p.38-47) a paidéia tinha o sentido de formação harmônica do homem para a vida da polis, através do desenvolvimento pleno do corpo e toda a consciência. A educação passou a corresponder as exigências própria estrutura da sociedade grega, especialmente por sua estratificação social de oposições entre livres e escravos, entre nobres e plebeus. De modo que a educação foi dirigida preferencialmente aos meninos nobres da elite guerreira e da elite com posses.
Até os 7 anos sua educação se da no seio familiar, depois dos sete os meninos eram entregues aos pedagogos (pais, paidós=criança; agein= conduzir), que eram escravos a quem os atenienses confiavam a criança, conduzindo-os até a escola. O menino ateniense frequentava dois tipos diferentes de escolas: a escola de música e a escola de ginástica ou palestra (lugar de luta). Nessas escolas aprende com o mestre-escola, que acompanham a educação do jovem aristocrata, fruto de um lento trabalho de acompanhamento do educando por muitos anos.
Atenas ao alcançar seu máximo esplendor, ampliando suas relações econômicas, aumentando a prosperidade material e cultural dos cidadãos, a velha constituição aristocrática é substituída pela constituição democrática. Nesse sentido, as exigências impostas a educação foram duplas: de um lado, com o desenvolvimento da liberdade na esfera política, passou-se a reclamar da educação maior liberdade individual de pensamento e ação. Por outro lado, impo-se a necessidade de um treino ou habilitação do individuo a aproveitar das oportunidades sem precedentes que se ofereciam para o engrandecimento e realizações pessoais. Todavia, na sociedade ateniense, organizada sob o velho regime, não havia meios para ministrar a educação que proporcionasse ao individuo condições de êxito pessoal. Toda a educação existente preparava apenas para o exercício cívico. Aparece então, o instrumento necessário, sob a forma de uma nova classe de professores – os sofistas (Monroe, p.53).
Os sofistas (sophos= sábio) surgiram como sendo a nova classe de professores que a sociedade exigia. Geralmente, os sofistas eram professores ambulantes que percorriam as grandes cidades. Eles ensinavam as ciências e as artes, com finalidades práticas, principalmente, a eloquência, em troca de uma elevada contribuição financeira. Muitos sofistas davam apenas uma preparação superficial que geralmente, consistia em fornecer a seus alunos discursos feitos sobre certos tópicos, a serem repetidos em determinadas ocasiões.
Em seus ensinamentos, os sofistas, acentuavam de forma exagerada o valor da individualidade. Entre eles não haviam nenhum sistema comum de idéias. A única ideia comum era que não havia idéias universais nem padrões universais de conduta. Nas palavras de Protágoras, um dos maiores sofistas, “o homem é a medida de todas as coisas”. Assim o indivíduo situava-se num tal nível de independência que ficava acima dos deveres cidadão.
De qualquer modo, continuava, o problema para os gregos em formular um ideal educativo que pudesse satisfazer as necessidades institucionais e o bem coletivo e, ao mesmo tempo promovesse o completo desenvolvimento da personalidade. A oportunidade para que os filósofos gregos reformulassem os fundamentos de educação nasceu do conflito entre a nova e a velha educação grega.

REFERÊNCIAS

BRANDÃO. Carlos R. O que é educação. 33 ed. São Paulo: Brasiliense, 1995.
MONROE, Paul. História da educação. 6 ed. São Paulo: Nacional, 1983.
PILETTI, Claudino; PILETTI, Nelson. Filosofia e história da educação. 4 ed. São Paulo: Atica, 1986.

EDUCAÇÃO: DO AUTORITARISMO A AUTORIDADE OU VICE-VERSA?


Em tempos educacionais difíceis, faz-se necessário uma reflexão entre autoritarismo e autoridade. Podemos dizer que os problemas educacionais atualmente estão se avolumando cada vez mais: baixos salários, poucos recursos materiais, formação continuada precária etc; E, como se isso não bastasse, aparecem inúmeros outros problemas, frutos de uma profunda crise de valores sociais e morais que atingem o espaço escolar, que geram um grande descompasso entre a atuação pedagógica da escola e dos professores e a postura dos alunos.
Desrespeito, indisciplina e desinteresse pelos estudos, são alguns dos problemas comuns que hoje a os professores estão enfrentando. A partir disso, surge à questão: como enfrentar tais problemas? Alguns professores buscam fazer “justiça” com as próprias mãos, isto é, enfrentam com “linha dura” essa problemática, que não é individual e sim coletiva. Toma-se saídas, pelo sentido de sua “autoridade”, mas que aparecem em forma sutil de “autoritarismo”.
Todavia, não queremos dizer com isso que o professor é um “vilão” e o aluno é o “santinho”, muito pelo contrário, ambos são vítimas do mesmo sistema. O sistema educacional de um país é um prolongamento de um sistema social e político. Em conseqüência disso, conforme Gadotti, “não poderá estar mais ‘atrasado’ ou ‘adiantado’ do que este”(1986, p. 83). As contradições existentes na escola são as contradições reproduzidas da própria sociedade. Nelas a própria comunidade escolar se torna vítima desse sistema de desigualdade, dominação e controle social.
O autoritarismo na escola vem revestido e é gerado, principalmente, pelo legalismo e pela burocracia. E nisso, o governo manda e desmanda. O calendário anual, as informações do que já foi decidido, vem tudo das instâncias superiores (inclusive o não reajuste salarial). Evita-se o máximo a participação coletiva, a organização democrática e as decisões do grupo. Nesse sentido, sem muito se dar conta, essa forma respiga na postura do professor em sala de aula, transformando-a em lugar de controle e obediência. O aluno não pode falar, se fizer isso “ele é indisciplinado”, “não tem moral”.
Com isso, o aluno perde o interesse pelos conhecimentos, decora aquilo que precisa saber e muitas vezes se rebela diante daquilo que não vem sentido com a sua vida e se queixa de atitudes autoritárias de muitos professores, em contrapartida, os professores se vêm impotentes para resolver os problemas disciplinares de alunos “mal-educados”, da falta de interesse e motivação, sem “impor disciplina”, ou “recorrer à nota”. Todavia, temos que entender o seguinte: a crise do modelo autoritário da educação não é apenas interna à educação, ela é muito mais complexa.
Perrenould (1995) vai considerar que mudar a postura autoritária significa mudar a escola e mudar a escola requer desestabilizar a prática pedagógica e o funcionamento da escola. Por isso, é de suma importância considerar o caráter democrático das ações escolares. Parece que não, mas estamos acima de qualquer sistema burocrático, na realidade somos humanos, estamos aprendendo – ensaio e erro – e dessa forma, podemos criar novas mentalidades, novas maneiras participativas e atuações significativas na escola. E, no momento o conceito de autoridade é uma alternativa e é o que precisamos procurar demonstrar em nossas ações, pois, somos PROFESSORES, ALUNOS, ESCOLA preocupados com a formação crítica dos sujeitos escolares.
Os governos perdem a legitimidade de suas proposta quando não usa o debate para elaborá-las. Seguindo uma prática autoritária, muitos diretores, não conseguem viabilizar o andamento da escola sem usar a “força” (impor convocações, mandar faltas), também o professor terá pouca credibilidade se suas iniciativas não contemplam a participação em sala. É necessário começar o combate a partir de cima e é importante estarmos atentos à construção de: projetos significativos da escola; movimentos de lutas pelas condições favoráveis ao nosso trabalho(luta sindical); espaços de trabalhos coletivos e de troca de experiências entre os professores-alunos e comunidade escolar (p. ex. reuniões pedagógicas e administrativas);espaços em redes de participação coletiva (Conselho deliberativo, APP);
REFERÊNCIAS:
GADOTTI, Moacir. Educação e Compromisso. Campinas, SP: Papirus, 1986.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
PERRENOULD, R. Formação em avaliação: entre idealismo ingênuo e realismo conservador. In: Práticas pedagógicas, profissão docente e formação: perspectivas sociológicas. Lisboa: Dom Quixote, 1993, pp.155-170.