sexta-feira, 3 de abril de 2009

A Vida auto-danificada



Tenho percebido que mesmo com a crescente automação dos processos tecnológicos, com a crescente informatização, com a alta velocidade de circulação das informações, com a ampliação democrática da cultura e do conhecimento, a humanidade ainda é acometida por profundos processos de crises estruturais da organização social.A crença do ingresso da humanidade num tipo de cultura que levaria ao progresso e libertação dos sujeitos através do conhecimento científico tem demonstrado o lado implacável de uma "nova barbárie": a auto-danificação da vida.

As pessoas estão se aniquilando em processos voluntarios de auto-danificação.Segundo Márcia Tiburi (2005, p. 125) na pergunta sobre o paradeiro do sujeito, encontramos a discussão da perda da experiência existencial que se constitui na própria aniquilação da subjetividade.Também parece estar em evidencia hoje a idéia de eliminação do outro, sobretudo, através da discriminação racial, social e da exclusão.

O inteiramente outro do mundo administrado, com suas massas de homens e mulheres isolados e supérfluos, vive sem reciprocidade: nele e para ele os homens e mulheres, crianças e jovens são substituíveis e intercambiáveis como mercadorias.na contemporaneidade o sujeito inscreve-se na ideologia de uma ciência econômica regida por um circuito fechado de "fenômenos objetivos", os do mercado mundial capitalista, essa forma moderna do destino os submete. Essa aferição é produzida pelo pensamento único, pelo reino da uniformidade e da unanimidade que sacrifica a alteridade.

Poderiamos dizer que a subjetividade, na sociedade atual, não é o modo da libertação mas, pelo contrário, a forma do aprisionamento do indivíduo. Dessa forma, se não estamos atentos a essas configurações sociais, passam despercebidas as relações alienantes e ideológicas que, mecanicamente automatizam o sujeito como peça de uma engrenagem social, fechada em si mesma e como consumidor dos espetáculos barbarizados. Dessa forma, o resgate da alteridade deveria estar, potencialmente, no pa-thos de uma moral emancipadora e de resistência à barbárie.

Referência
TIBURI, Márcia. Metamorfose do conceito: ética e dialética negativa em Theodor Adorno. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2005.